A realização do Torneio OIST, na semana passada, em Turquel, foi o culminar das ações de Observação, Identificação e Observação de Talentos 2023, realizadas em todas as Associações de Patinagem.
No final do torneio onde participaram 40 atletas divididos em quatro equipas, sendo uma delas feminina, falámos com o selecionador nacional, Hélder Antunes, sobre o trabalho que tem sido desenvolvido na vertente do hóquei em patins feminino.
Qual o balanço deste ano das ações OIST, que culminaram com este torneio, no que diz respeito à equipa feminina?
A equipa feminina demonstrou o que já tínhamos verificado nos diversos OIST que realizamos pelas associações territoriais, onde notámos que o nível qualitativo do jogo delas aumentou, fruto do trabalho feito nos clubes e nas associações.
Este é um grupo que já vem sendo observado anteriormente?
80% das atletas que aqui estão já jogou no inter-regiões masculino, já tem algum entrosamento, logo já se consegue fazer algo mais do ponto de vista do jogo tático e coletivo. Fizemos algumas experiências e todas elas deram uma resposta positiva. Felizmente começamos a ter um leque de opções mais alargado e elas estão a fazer o seu trajeto.
Este ano vai realizar-se pela primeira vez o Campeonato Europeu de Sub-17 no feminino. Este facto foi tido em conta nas ações de observação e agora no Torneio?
Termos o primeiro europeu de Sub-17 é aliciante para elas, mas não estamos para já preocupados. Esse é mais um patamar em que temos de as fazer crescer. Independentemente de tudo, elas têm de se apresentar como Portugal se apresenta: ao mais alto nível. Mas a grande cereja no topo de bolo terá de ser o pós europeu e as atletas estão a perfilar-se para, dentro de pouco tempo começarem «a bater à porta» da seleção principal.
Daí a importância de um momento competitivo como este?
Sem dúvida que é muito bom termos o europeu de Sub-17, é óbvio que vamos para ganhar – não poderia ser de outra forma – mas depois não pode acabar aí. A nossa grande missão é potenciá-las para que o leque de opções dentro de dois três anos na seleção principal seja maior, com mais qualidade, mais quantidade e que possamos retomar o rumo dos êxitos do hóquei em patins na vertente feminina.
Sente que o trabalho realizado em prol do hóquei feminino nos últimos três anos e meio (p.e. entrada de uma equipa feminina no inter-regiões, campeonato nacional de sub-15 e sub-17 feminino) já está a dar frutos?
Não tenho dúvidas que desde que esta direção, presidida pelo professor Luís Sénica, começou a trabalhar em 2019 e que todas estas medidas e competições (não esquecer as alterações regulamentares), assim como a promoção de eventos e as condições que se estão a dar no trabalho com o hóquei feminino, mostram-nos que estamos no caminho certo.
É um trabalho evolutivo para o qual estas ações são importantes?
Sim. Temos aqui atletas de 1º ano de Sub-17 e três atletas de Sub-15. E este nível é possível porque já trabalhamos com elas há dois três anos. São atletas que acompanhamos e aqui temos o nosso trabalho e a capacidade de ir acompanhando e observando para as fazer crescer em contexto de seleção.
É um processo demorado?
Gostaríamos que fosse mais rápido, sim. Gostaríamos de ter muito mais atletas, claro que sim. Mas também percebemos a realidade do hóquei em patins, as dificuldades que muitos clubes têm, e a nossa dimensão porque somos uma disciplina que não está distribuída de forma igual a nível geográfico e está concentrada em determinadas zonas.
Que argumento utilizaria hoje para cativar tanto atletas a praticar, como os clubes a apostarem mais no feminino?
Diria para verem as atletas como atletas e não como sendo do sexo masculino ou feminino. Não vejam por esse prisma. Reparem: quando temos um país que, segundo os censos 2021, 48% da população é do sexo masculino, os outros 52% não são do sexo feminino: os outros 52% são as mães dos outros 48%. E é esta a visão que temos de trazer.
Começa a haver uma mudança de mentalidades?
Sim, há 20 anos era diferente: havia muito a mentalidade que o hóquei em patins não era para as meninas. Atualmente, felizmente, já é diferente e já temos uma grande parte das pessoas e clubes que não diferenciam, e bem. Não tenham falta de coragem, caso tenham dez meninas de uma determinada faixa etária, de as por a competir numa prova contra equipas maioritariamente masculinas. Façam isso. Hoje podemos perder por dez ou 15, mas amanhã vamos perder por três ou por quatro e, dentro de três quatro anos, elas vão responder.
Os clubes são cruciais para essa evolução?
Sim, aqueles que já têm nas suas fileiras atletas femininas, percebem que elas não estão ali para fazer número, percebem que se lhes derem oportunidade elas também crescem e são úteis ao clube. E quem fica a ganhar somos todos nós, porque isto traz retorno. Isto é quase uma «economia circular» e aqui ficamos todos a ganhar.
E é esse o princípio da formação também?
É esse. É isso o que elas precisam: serem tratadas como atletas. Dêem-lhe oportunidades de jogar e ensinem-lhes, porque são dotadas de uma capacidade nesse aspeto muito mais perspicaz, capaz e focadas que os rapazes.